viernes, 1 de marzo de 2019

BILINGUISMO: INCRÍVEIS BENEFÍCIOS COGNITIVOS, CULTURAIS E FÍSICOS


Através de pesquisas, sabemos hoje que aprender uma ou duas línguas novas resulta em grandes diferenças na trajetória de desenvolvimento.

Nosso mundo está se tornando cada vez mais globalizado. Essa interconexão nos concede acesso à línguas de países aos quais nunca fomos. Através da migração de pessoas, línguas também migraram para lugares que não existiam antes e, em vários países, diversos idiomas estão coexistindo para além da língua nativa. Mas será que isso poderá alterar o idioma que aprendemos a falar?
Há muitas vantagens para quem sabe vários idiomas. Ao viajar, por exemplo, você pode perguntar onde é o banheiro ou quanto custa algo. No aeroporto, você é capaz de traduzir algo para outro passageiro. Você poderá se aprofundar mais em uma leitura, ao ler textos em seu idioma original. Esses exemplos podem ser pequenos, mas devem tornar a vida um pouco mais fácil e emocionante. Entretanto, as vantagens são ainda mais profundas do que isso.
O Mito do Déficit Bilíngue
Historicamente, existe um medo de que a exposição de crianças a mais de um idioma em uma idade precoce pode causar confusão e atraso nas habilidades de linguagem. Alguns estudos comportamentais sugeriram que os cérebros das crianças ainda não estão desenvolvidos o suficiente para lidar com tanta informação, e por isso, duas línguas ao mesmo tempo seria prejudicial para o desenvolvimento infantil.
Se isso fosse verdade, é improvável que eu estaria escrevendo este ensaio hoje. Ao longo do meu crescimento, em minha família, se falava cotidianamente quatro línguas. Minha mãe falou em urdu conosco, meu pai falou em Inglês, nossa babá em hindko – uma linguagem do norte do Paquistão – e meus pais falavam entre si em punjabi. A meu entendimento, todos os membros de minha família são – pelo menos de maneira objetiva – funcionais e adultos plenamente alfabetizados.
Através de pesquisas, sabemos hoje que aprender uma ou duas línguas resulta em grandes diferenças na trajetória de desenvolvimento. (2) Crianças que aprendem duas línguas às vezes podem misturar gramáticas ou palavras de diferentes línguas, o que é uma parte normal da aprendizagem de línguas e não indicativo de dificuldades de aprendizagem. (3) Nos primeiros anos, o vocabulário das crianças, para cada idioma, poderá ser menor em comparação com as crianças monolíngues, mas quando ambas as línguas são colocadas na balança, os vocabulários completos serão similares. Porém, o vocabulário da criança bilíngue continuará a se expandir. (4)

Os benefícios neurais do bilinguismo
Há evidências de que o bilinguismo pode melhorar o funcionamento executivo. A função executiva é pensada para ser alojada principalmente na parte frontal do cérebro, no que chamamos de córtex pré-frontal (embora a pesquisa sugira também que é parte de redes que conectam todo o cérebro). A função executiva é um termo genérico para vários processos cognitivos, incluindo a memória, o raciocínio e resolução de problemas, bem como planejamento e execução – ou seja, um monte de coisas importantes.
Com uma ampla gama de funções executivas, a maioria dos estudos terá de se expandir para além de uma função específica, para aprendermos mais. Alguns estudos, por exemplo, focam na forma como processamos as informações conflitantes. Pesquisadores descobriram que aqueles que são bilíngues superaram seus pares monolíngues em tarefas que exijam informações conflitantes. Estes estudos foram feitos para medir o quão rápido respondem a estímulos conflitantes ou confusos.
O teste Stroop consiste em mostrar a palavra azul, por exemplo, em uma tela, escrita em amarelo. A tarefa é nomear a cor da fonte e ignorar a palavra escrita. Parece fácil, mas é algo difícil de fazer com rapidez e precisão quando a cor e a palavra não coincidem.
Esse tipo de tarefa requer controle inibitório conforme se recebe a informação perceptual. Bilíngues se saíram melhor que os monolíngues em tarefas que continham o controle inibitório, e também em alternar entre duas tarefas em termos de velocidade e precisão.
Além de serem melhores em classificação e informações conflitantes, outros estudos demonstraram que os bilíngues são mais capazes de filtrar o ruído e as distrações. Em média, eles parecem ter a capacidade de exibir maior foco, independente do que está acontecendo ao seu redor. Em um nível básico, os bilíngues parecem ter uma capacidade maior para monitorar seu ambiente.
Cientistas teorizam que a comutação entre as línguas muitas vezes requer grande autoconsciência. É possível que o cérebro bilíngue esteja preparado para codificar rapidamente as mudanças e os desvios do que está sendo falado. Neste estudo, os bilíngues tiveram melhor desempenho e menor atividade cerebral nas regiões do cérebro associadas com monitoramento. Isso pode indicar que eles são capazes de alternar entre as tarefas de forma mais eficiente e com menos demanda cognitiva. (5)
Até agora, discuti como ser bilíngue pode melhorar a função executiva, por dar maior controle inibitório, capacidade de alternar entre tarefas, monitorar o ambiente e filtrar distrações. Mas o que mais o bilinguismo pode fazer?
Acredite: além de tudo isso, também pode proporcionar alguns benefícios ao envelhecimento.
o bilinguismo pode ajudar a PreservaR o cérebro
Crescentes evidências parecem indicar que falar várias línguas pode retardar o aparecimento da demência por até cinco anos.  Em vários estudos com pacientes de Alzheimer, constatou-se que os bilíngues relataram o início dos sintomas da doença aos 77 anos, enquanto que a maioria dos monolíngues relatou o início dos sintomas aos 72 anos. Claro, é importante reconhecer que muitos desses estudos são correlacionais. No entanto, o que é particularmente interessante é que, com os estudos, verificou-se que os cérebros das pessoas bilíngues tinham o dobro de atrofia física em regiões associadas com Alzheimer. Curiosamente, apesar dos bilíngues terem maior atrofia em relação aos seus homólogos monolíngues que apresentaram um cérebro menos prejudicado, os bilíngues demonstraram que seus cérebros podem ser excelentes em recursos, exigindo menos tecido saudável para alcançar os mesmos resultados.
Embora os cientistas não entendam completamente por que isso acontece, alguns supõem que tem algo a ver com a forma de como a linguagem é moldada no cérebro. Alguns teorizam que falar duas línguas aumenta o fluxo de sangue e oxigênio para o cérebro, mantendo conexões nervosas mais “ajustadas” e ativas. (6)
Estudos de Harvard revelaram que os bilíngues parecem ter mais matéria branca em seus lobos frontais (onde está localizada nossa área de função executiva) e lobos temporais (que é uma área importante para a linguagem) (7). A substância branca é composta, essencialmente, pelas longas fibras (axônios) que conectam as células no cérebro. Ou seja, mais matéria branca gera mais ligações. Esses estudos suportam estudos anteriores, que demonstraram que o bilinguismo pode moldar o funcionamento do cérebro e da estrutura de forma única.
O futuro do Bilinguismo
Depois de ler este ensaio você pode pensar que deveria aprender espanhol, ou talvez  não deveria ter reduzido a velocidade em sala de aula. Mas infelizmente, não é assim que funciona.
O professor Gigi Luk, da Universidade de Harvard, em sua pesquisa sobre bilinguismo, obteve resultados que mostram que muitos dos benefícios descritos são conectados a uma experiência de linguagem ao longo da vida, que se inicia na infância e continua até a fase adulta. Durante a infância, o cérebro está em grande fluxo, e pode ser que a linguagem tenha uma influência especial sobre as redes do cérebro durante esse estágio. Isso pode resultar em grandes benefícios mais tarde na vida.
O que podemos tirar, no entanto, é o presente que pode ser ensinar vários idiomas para os nossos filhos. Embora possa demorar um pouco mais para eles alcançarem pleno domínio de outra língua, uma vez que eles conseguem, e se continuarem a praticar ao longo de suas vidas, a riqueza de sua experiência global e as portas socioculturais que se abrirão para eles são incontáveis. Com a pesquisa apontando para seus benefícios cognitivos, e nosso mundo cada vez mais interconectado culturalmente, parece claro que os objetivos da educação irão alinhar-se com o bilinguismo.
As crianças não podem normalmente fazer essa escolha por si mesmas, por isso cabe a nós trabalhar em direção a um sistema que lhes dê o melhor que a educação pode oferecer.

Tomado de: https://www.residenciais.org/2016/02/bilinguismo-incriveis-beneficios-cognitivos-culturais-e-fisicos/